quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ALMA CONSUMIDA

Deito pra dormir. E tento me recordar quantas vezes suas mãos passaram pelos meus cabelos depois do orgasmo que você teve. Quantas frases afetuosas rolaram? Daqui quantas horas vamos nos ver novamente?
Nada. Acabou. E em dois minutos você já se levanta e fala das mil coisas que tem para fazer. Eu fecho os olhos e respiro fundo. Aos poucos, seu cheiro vai sumindo. E leva junto minha culpa. Parei de me crucificar por todas as vezes que me sinto usada por você. Cotidiano. Você vem com seu cheiro, eu me entrego, e segundos depois recomeço do zero. Ou abaixo dele.
E logo eu, que sou de tantas outras bocas, que estou em outras tantas cabeças...perco a paz com você, nessa sutil solidão.
Sem crise. Eu recolho minhas roupas e tento vestir minha armadura, que dura menos que o tua vontade de me ter. Bom seria se as minhas vontades também cessassem com um simples orgasmo. 
Mas meu orgasmo é feminino. E orgasmo de mulher vem do ouvido. Do antes e depois. Com chance de ser múltiplo se ela se sentir amada, quando o dia raia e a maquiagem está borrada. Quando a boca já não tem mais gosto de hortelã e o humor não é o mesmo da noite anterior.
Sem tempo, você usa meia dúzia de palavras para se despedir. e eu me agarro a elas pra ter a certeza de que em poucos dias eu estarei aqui novamente. 
Olhando pra você, pra bagunça do teu quarto, da tua vida que eu não faço parte. Para o amontoado que eu viro, depois de uma noite de você.