sexta-feira, 23 de agosto de 2013

SAIBA

Piso nos cacos do vaso quebrado. Aquele vaso que sua mãe nos deu para enfeitar nossa primeira casa. Piso para ver meus pés sangrarem, e quem sabe sentir uma dor menor, que me distraia. Penso em morrer aos poucos, ao ver o sangue jorrando. Mas sei que é impossível.
Fico horas assim. Não quero fazer nada. Não quero lavar os pés, nem parar de sangrar. Eu quero parar com você, apenas. Com o rasgo que você fez ao ir embora.
Eu passei o dia escrevendo. Notícias, artigos, tese. E a única coisa que consigo me lembrar são as últimas palavras que me disse. Que eu era dura, que tinha necessidade de controle, e que jogar com isso era meu passatempo predileto.
Você nunca soube.
Não soube que o que eu gostava mesmo de fazer era observar você dormir. Organizar tua agenda e tuas roupas. E levar teu cachorro pra passear, quando ele ainda não era meu também.
Você nunca soube que eu tentava te controlar, apenas pra te lembrar o tempo todo que eu poderia ser sempre tua melhor opção.
Eu nunca joguei com você.
Eu me joguei pra você. E pra fora de mim.
E agora, sem saber que rumo tomar, prefiro ficar aqui, parada, sangrando. Pra não ter mesmo que ir a algum lugar.
Quem sabe você não volta...Quem sabe voltar possa ser teu passatempo.E aí, o jogo acaba. Feliz.