quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ERA AMOR?

As palavras saem agora quase sem querer. Como saíram suas roupas do armário. Como você saiu de repente do mundo que era nosso. Como se não houvesse outra opção. Pra nós.
Os únicos barulhos são as teclas e a minha respiração. Rápidas e ofegantes. Talvez cansadas de esperar por respostas. 
Sei o quanto esperou por respostas minhas também. E o que vinha sempre eram caras e bocas e jeitos emburrados de mulherzinha que eu achei que só você entenderia. Quanta infantilidade imaginar que eu poderia ser sempre uma criança mimada. Quanta ingenuidade achar que você sempre entenderia e jogaria teu corpo em cima do meu, dando gargalhada e me obrigando a rir também por causa de uma dose de cócegas.
Porque você não me avisou?
Porque não me contou que um dia cansaria, que bateria a porta sem dizer nada? Porque não disse que me faltaria  teus pés para esquentar os meus nessas noites de inverno? Porque não me avisou que não adiantava comprar seu queijo preferido porque  ficaria com a data vencida ? Porque não disse que não estaria comigo pra comemorar minha promoção de ontem? Porque não está aqui brigando por causa dos meus gastos exagerados com sapatos?Porque não me disse que seria incapaz de me dar uma segunda chance todos os dias?
Porque não me contou que o amor é uma contagem regressiva, muitas vezes acelerada ?
Era amor ou bomba-relógio?
Era amor?

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

SAIBA

Piso nos cacos do vaso quebrado. Aquele vaso que sua mãe nos deu para enfeitar nossa primeira casa. Piso para ver meus pés sangrarem, e quem sabe sentir uma dor menor, que me distraia. Penso em morrer aos poucos, ao ver o sangue jorrando. Mas sei que é impossível.
Fico horas assim. Não quero fazer nada. Não quero lavar os pés, nem parar de sangrar. Eu quero parar com você, apenas. Com o rasgo que você fez ao ir embora.
Eu passei o dia escrevendo. Notícias, artigos, tese. E a única coisa que consigo me lembrar são as últimas palavras que me disse. Que eu era dura, que tinha necessidade de controle, e que jogar com isso era meu passatempo predileto.
Você nunca soube.
Não soube que o que eu gostava mesmo de fazer era observar você dormir. Organizar tua agenda e tuas roupas. E levar teu cachorro pra passear, quando ele ainda não era meu também.
Você nunca soube que eu tentava te controlar, apenas pra te lembrar o tempo todo que eu poderia ser sempre tua melhor opção.
Eu nunca joguei com você.
Eu me joguei pra você. E pra fora de mim.
E agora, sem saber que rumo tomar, prefiro ficar aqui, parada, sangrando. Pra não ter mesmo que ir a algum lugar.
Quem sabe você não volta...Quem sabe voltar possa ser teu passatempo.E aí, o jogo acaba. Feliz.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

ÚLTIMA CHAMADA

Vai embora. Dê uma volta no fundo, replante teu mundo e volta. Retorna para tudo aquilo que adora.Desaprova.Teu jeito , meu beiço. E muda.
Muda o batuque da tua voz pra contar teus contos de amor por mim.Põe silêncio em teu ouvido pra ouvir o abismo entre nós.Te atenta.Porque mais alguém pode acalentar meu coração. Sem pressa. Em breve.Eu agito meu salto no mundo sem ti.
Troca as ideias incrustadas,mostra a cara.Afina o discurso,porque falar bonito é também um amor aflito. Repele. A fantasia da pele nem sempre tem razão. 
Não se canse, não me edite. Não vá além de ti. Que em teus espaços absurdos, é onde fica a nossa paz.
Seja escudo, não queira tudo. De mim. Terá o justo, o pulso até o fim.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

QUASE ISSO

O amor não é a convivência. Amor é tudo que sobra para um,  quando o amor do outro vai embora. É a revista de carros que agora fica jogada no canto, sem ser lida, se acumulando semanalmente. É o iogurte que você ainda compra, mas que depois de dias vence, porque ele não toma mais café da manhã nesta mesa. É o telefonema no meio da tarde, perguntando como estão as coisas. São as coisas que não vão bem, mas que ficam bem quando você olha para a cara dele, enquanto ele se barbeia. É quando você sente saudade de ouvir que é linda mesmo quando está descabelada. 
É a cadeira vazia no almoço de domingo com a família. É a lágrima que cai no banho, enquanto você se esforça pra sair de casa. É o cachorro te olhando e querendo saber tanto quanto você, quando é que ele vai dar as caras.É o convite que você não aceita.É o leite quente que você gosta , mas que não sabe mais preparar, porque ele fazia isso por você. É o futebol no estádio, a praia no verão, a ressaca e as risadas.
É o carro sujo e desorganizado que agora não tem ninguém mais pra impedir. É o excesso de refrigerantes e balas que você volta a consumir, porque é o que te sobra como liberdade. É a dor de ouvir mais uma vez a mensagem eletrônica quando disca os unicos números que conseguiu decorar na vida.
É o prato predileto, a cor preferida, o medo de avião. É tudo o que não cabe em um baú, mas que é obrigado a ficar no coração. É a ferida que dói mais hoje, menos amanhã, e ainda mais na semana que vem. É tudo o que te sobrou.É tudo o que você já tinha e deixou perder o brilho.Amor não é a convivência. É quase isso.