sexta-feira, 2 de maio de 2014

DEVOLVO

Vou devolver amanhã. Tuas roupas e teus cabides. Tua mania de organização e tuas desculpas esfarrapadas. Teu telefone. Com o número dela. Devolvo tuas chances de se refazer. E se fazer. Como homem.
Vou devolver tua agenda cheia de compromissos vazios. E todas as mentiras descritas. Tua aliança. Nosso contrato não cumprido.
Mando teu álbum de fotografias com aquele excesso de branqueza nos dentes. Tão anormal quanto a tua mudança repentina.
Mando teus carrinhos de miniatura, teus livros de política. Tuas farsas ancestrais e indecentes.
Amanhã te devolvo o velho violão, tão sem voz quanto você. Tão inútil quanto o meu som te pedindo explicação.
Levo tuas músicas românticas tão nocivas quanto foi a nossa história.
Te mando teu velho pijama preferido e aquele primeiro bilhete manchado de vinho.
Te mando teus pertences.
Tu me traz de volta a vida. A minha. Tão fina. Tão falha.
Que a troca valha.
Se não valer, te mando a última caixa. Com meus destroços. E meu perdão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário